eu também mudei de vida. e algo mágico aconteceu.
mudar a disposição dos móveis do quarto. esse foi o momento em que me deparei com o prazer que dá acordar num quarto "novo". eu era pequena, mas recordo ainda hoje quando, pela primeira vez, mudei com a minha mãe a ordem das coisas no meu quarto. a minha mãe teve uma loja de decoração em Moçambique durante muitos anos e era a única pessoa que eu conhecia (e das poucas que conheço actualmente) que mudava a casa regularmente. mais ninguém. só na nossa casa é que os móveis tinham pernas para andar.
sempre tive sensibilidade para o espaço que era meu e como o queria ter. mais tarde, em adolescente, lembro-me da minha mãe ter-me colocado uma estante no quarto sem me perguntar ou pedir e eu senti-me completamente invadida. sempre gostei de ter pouco. de libertar. de experimentar novas configurações. e, acima de tudo, sempre gostei de mudar. adoro a frase que diz que não somos árvores. tenho é pena que tenhamos mais pessoas-árvores neste mundo, do que pessoas-pessoas. não falo de mudar de casa ou de país. falo de mudar de cabeça.
if you don't like where you are, change it.
You're not a tree.
organizar, seleccionar e mudar são verbos que sempre acompanharam a minha vida. mas eu pensava que pertenciam à minha vivência pessoal e não à actividade profissional. porém, é possível e eu não podia estar mais feliz. digo de coração. quando estou a organizar a casa com os meus clientes — descabelada, suada, sentada no chão a escolher com eles aquilo que lhes traz alegria —, sinto que estou a viver o meu real propósito.
«gostas mesmo disto, não gostas?» — disse-me uma vez um cliente incrível que tive, e que se dedicou comigo 8 horas seguidas a organizar a sua casa, como se estivesse a construir uma nova de raiz. a sua casa! é essa entrega que tenho em conta com todos os meus clientes. e quando eles se juntam à festa comigo, acontece sempre algo mágico.
choose a job you love and
you will never have to work
a day of your life.
voltando atrás. àquela organização de mãos dadas com tudo o que fazia. nem que fosse com o excessivo planeamento de todos os trabalhos da escola e as "calendarizações" obsessivas nos projectos da faculdade. formei-me em design visual, com grandes bases de design de produto. agora, o design anda de mãos dadas com tudo o que faço com a organização. é ele que me comunica, que me representa e que dá a cara a este projecto adorado, que é ser organizadora profissional. ele sabe comunicar exactamente aquilo que eu faço, vou fazer e vou impactar.
apesar de ter crescido em Moçambique, já vivo em Portugal há 17 anos. troquei Lisboa por São Paulo durante um ano, em 2013. mas pelo amor que tenho por Lisboa, já estou perdoada.
viver fora ensinou-me muitas coisas. todas aquelas que toda a gente sabe. e a mais importante: valorizar o que temos. segurança, família, amigos, cheiros, rotinas, dinheiro, conforto, desconforto, comida, risos, companhia, ter carro, a nossa língua, horizonte, independência e outras tantas. tanta coisa. e outras igualmente importantes: desenrascar-me sozinha, não ter medo, arriscar, meter conversa, conhecer outras pessoas, obrigar-me a conhecer outras pessoas, fazer amigos, estar sozinha, andar sozinha, ir a locais incríveis, ir a locais horríveis, comer coisas incríveis, comer coisas incríveis, comer coisas incríveis, engordar 10 quilos. receber visitas dos amigos, fazer viagens com amigos, descobrir.
assim foi.
enjoy the little things,
for one day you may look back
and realize they were the big things.
voltei e entrei no mercado de trabalho. aqueles 700€ «nada maus», como nos dizem. lembro-me perfeitamente do meu primeiro dia de trabalho. lembro-me de voltar para casa com os olhos cheios de lágrimas de felicidade. não acreditava que já estava a trabalhar e a ser paga por isso. e, ainda para mais, feliz por estar a receber formação (e ser paga por isso!). afinal, aquilo que aprendi na faculdade, não era para aplicar? a minha irmã mais velha, sempre me disse que na faculdade só aprendemos a pensar. e eu penso como ela. tive professores tão maus, e uns poucos tão bons que compensaram todos os outros. contam-se pelos dedos de uma mão, mas valeu a pena.
how we spend our days is,
of course, how we spend our lives.
trabalhei apenas 3 anos no mundo corporativo. apesar de estar a crescer, e sentir-me de certa forma realizada na minha vida profissional e no meu crescimento pessoal, percebia sempre que faltava algo. não me imaginava a fazer aquilo durante muito tempo. entrar as 9h, dar tudo, almoçar sempre à mesma hora, deparar-me sempre com os mesmos desafios, sair às 16h, 17h, 20h ou 2h da manhã, conforme o desafio. apesar de não ter ansiedade ao domingo, ou dificuldade em levantar-me para ir trabalhar, sentia que não estava nesta vida só para aquilo.
the greatest project
you'll ever work on is you.
em 2017, li «o poder do agora», de Eckhart Tolle. mudou todo o meu mindset e forma de estar na vida. decidi que tinha de transformá-la imediatamente. percebi que estava a ver tudo ao contrário. apesar de estar mais alinhada com o que é normal, senti-me rapidamente anormal. e assim foi. um plano mal desenhado de como me ia sustentar, um plano muito simples de como tudo ia acontecer. não correu exactamente como planeei até hoje. correu muito melhor. tomar a decisão de me despedir, de ir trabalhar para um café até entrar no mundo da organização a 100% e foi um percurso muito interessante.
if you are always trying to be normal
you will never know how amazing you can be.
hoje, aqui estou eu. com 28 anos, com um negócio próprio, todos os dias a encontrar o meu próprio equilíbrio e as minhas "normalidades" e todos os dias a agradecer tudo o que me acontece.
KonMari entrou na minha vida logo após ler «o poder do agora» e ter decidido que queria mudar a vida das pessoas a organizar-lhes as casas. Descobri os livros de Marie Kondo, devorei-os e tomei conhecimento que podia ser consultora do método, cá em Portugal. foi a conexão perfeita.
it’s about choosing joy.
existem já alguns métodos de organização criados por organizadoras no mundo inteiro que funcionam eficazmente, mas o que me fez escolher o KonMari enquanto método a aplicar com os meus clientes, e a minha vida, foi a sua sensibilidade e foco na nossa voz interior. adoro este lado de desenvolvimento pessoal que o método permite. faz-nos questionar tudo aquilo que escolhemos manter na nossa vida. adapta-se a cada pessoa. modifica-se com a pessoa. não há certo nem errado. há sentimento. e escolher de acordo com a nossa intuição. a meu ver, a inteligência mais verdadeira que existe.
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